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PSICOLOGIA DO SELF

Kohut, com suas contribuições ao entendimento do homem, é considerado o criador de um novo paradigma na psicanálise. Em seu importante artigo Introspecção, Empatia e Psicanálise (1959) já se vislumbram os rumos que sua teoria irá tomar: ao diferenciar os fenômenos físicos (aqueles cujo método essencial de observação inclui os nossos sentidos) dos fenômenos psicológicos (aqueles cujo método essencial de observação são a introspecção e a empatia) Kohut iniciava o seu afastamento do modelo instintivista da psicanálise para valorizar a experiência vivida pelo ser humano.

Psicologia do Self

Então, um instinto é uma abstração de inumeráveis experiências internas”.

“Os conceitos de Eros e Thanatos não pertencem à teoria psicológica baseada nos métodos de observação de introspecção e empatia, mas a uma teoria biológica que deve estar assentada em outros métodos de observação”.

Ao invés das vicissitudes dos instintos, interessam a Kohut as vicissitudes do self, apesar dele nunca, propositadamente, ter definido o self e saber das críticas que poderiam advir dessa omissão. Kohut explica isso em A Restauração do Self (1977).

“O self é, como a realidade, não conhecido em sua essência. Nós podemos descrever as várias formas coesas nas quais ele se apresenta, podemos demonstrar os vários constituintes que compõem o self … e explicar suas gêneses e funções. Podemos fazer tudo isso, mas ainda assim nós não conheceremos a essência do self enquanto diferenciado de suas manifestações”.

A experiência de possuirmos um self – a sensação de sermos uma unidade, coesa no espaço e com duração no tempo, um centro de iniciativa e direção interior – necessita, para se estabelecer, de respostas empáticas por parte dos cuidadores que são experienciados como fazendo parte do próprio self – os objetos narcisicamente percebidos, denominados por Kohut de selfobjetos. Os selfobjetos, transformados em estruturas psicológicas pelo processo de internalização transmutadora, serão necessários por toda a vida para evocar e sustentar o senso de self.

Kohut fez essa descoberta através de sua prática clínica onde constatou que certos pacientes necessitavam que ele desempenhasse uma função especular ou permitisse ser idealizado para uma fusão onipotente com a força do analista idealizado; percebeu, assim, as transferências selfobjetais especulares, idealizadoras e, mais tarde, as transferências selfobjetais gemelares. Observou também que as falhas do analista em responder às necessidades selfobjetais desses pacientes acarretavam reações de abatimento ou de muita raiva. Ao invés de ver em tais reações as manifestações dos instintos destrutivos, Kohut as compreendeu como causadas por um desequilíbrio narcísico: as reações depressiva e também as reações mais violentas, chamadas por ele de fúria narcísica, surgiam porque a conservação da auto-estima e do self destes pacientes dependiam do controle absoluto sobre o ambiente e da disponibilidade incondicional de um selfobjeto.

Para Kohut, também diferentemente da psicanálise tradicional, o narcisismo não seria um estágio do desenvolvimento que evoluiria para a relação objetal. Kohut percebeu que o narcisismo possui uma linha de desenvolvimento própria e que ele não seria nunca extinto e sim transformado pelas adequadas respostas empáticas dos selfobjetos a cada estágio da vida, e pelas conseqüentes internalizações transmutadoras.

Assim, o desenvolvimento do ser humano, como Kohut apontou, ocorre sempre dentro de uma matriz de relações self – selfobjetos.

A valorização dessa dinâmica interacional, antevista por Kohut, está, hoje em dia, plenamente comprovada pelos achados oriundos da pesquisa com crianças que têm demonstrado um crescente reconhecimento da importância da regulação mútua entre aquele que cuida e a criança. As bases teóricas lançadas pela Psicologia do Self de Kohut têm sido aprimoradas e desenvolvidas através de novas teorizações de autores recentes, como a teoria dos sistemas motivacionais de Lichtemberg, a teoria da intersubjetividade de Stolorow, Atwood e outros, e a teoria relacional de Mitchell e colegas.

Podemos dizer, em síntese, que Kohut transformou a nossa maneira de pensar o narcisismo, os objetos, a sexualidade, a agressividade e, mais que tudo, chamou a nossa atenção para o envolvimento direto e simbólico do self no mundo.

A conseqüência para o processo psicanalítico foi a descoberta de que as mudanças terapêuticas operam ao mesmo tempo, intrapsiquicamente, intersubjetivamente e interpessoalmente e são possibilitadas pelo desenvolvimento do relacionamento entre paciente e analista

Fonte: www.abepps.org.br

Sobre Heinz Kohut

Heinz Kohut  nasceu e foi criado em Viena, Áustria. Filho único de um casal judeu, seu pai Felix, pianista talentoso, após servir no front por ocasião da 1ª. Grande Guerra, teve que abrir mão de sua carreira musical, tornando-se um homem de negócios. Sua mãe Else Lampl Kohut, mulher de temperamento forte, deixou marcas importantes na vida de Kohut. 

 

Os primeiros quatro anos escolares do pequeno Heinz foram realizados em casa pelos tutores contratados por Else. O último ano do curso elementar e os oito restantes do curso secundário foram realizados no Doblinger Gymnasium. Em 1938 Kohut graduou-se em Medicina pela Universidade de Viena.

Em sua adolescência, durante alguns anos, Kohut teve como tutor Ernst Morawetz, provavelmente um estudante universitário, que passava as tardes com ele e o acompanhava em atividades culturais como museus, óperas, etc. Se não fosse por Morawetz, Kohut teria sido, naqueles anos, um jovem solitário. 

Heinz Kohut

Kohut sempre se referiu a Morawetz de forma afetuosa e o relacionamento entre eles foi descrito, de maneira disfarçada, como o conselheiro de campo no seu artigo “As duas Análises de Mr. Z”.Kohut foi um homem de grande cultura; conhecedor de música, especialmente ópera, que costumava assistir com muita freqüência, era também bastante ligado à literatura e artes plásticas.

Em 1937 Kohut inicia sua primeira psicoterapia com o psicólogo Walter Marseilles, especialista no teste de Rorschach. Mais tarde procura tratamento com o renomado psicanalista de então, August Aichhorn, amigo de Freud. Esta análise teve um término prematuro com a ocupação da Áustria por Hitler na primavera de 1938. Como judeu, Kohut corria grande perigo. Em 1939 seguiu para a Inglaterra onde viveu um ano. Tendo conseguido um visto para os Estados Unidos, Kohut chegou à América em março de 1940. Partiu imediatamente para Chicago onde já se encontrava um amigo de infância, Sigmund Levarie, que tinha conseguido trabalho na Universidade. Kohut fez residência em Neurologia e Psiquiatria durante a década de 1940 na Universidade de Chicago. Iniciou sua análise didática com Ruth Eisler nessa mesma época, começando então a formação analítica no Instituto de Psicanálise em 1946. Titulou-se em 1950 e deixou a Universidade, mas permaneceu um leitor assíduo de Psiquiatria.

Trabalhou “full time”, o resto de sua vida, como psicanalista. Em 1948 casou-se com Elyzabeth Meyers e teve um único filho, Thomas August (em homenagem a Aichhorn), em 1951.Já na década de 1950 Kohut conquistou o reconhecimento da comunidade psicanalítica de Chicago, onde era visto, apesar de uma certa relutância, como um analista muito criativo. Nesse período Kohut publicou vários artigos sobre psicanálise aplicada, specialmente sobre psicologia da música.

É também dessa década (1ª. apresentação em 1956 e 1ª. Publicação em 1959) uma de suas grandes contribuições à psicanálise que foi o ensaio “Introspecção, Empatia e Psicanálise”. Nele Kohut argumenta que a forma essencial de conhecimento em psicanálise é através da empatia ou introspecção vicariante. A empatia acabaria por se tornar a peça central de sua Psicologia do Self. 

 

Por muito tempo Kohut esteve envolvido em atividades administrativas no Instituto de Psicanálise de Chicago e no perríodo de  presidiu a Associação Psicanalítica Americana. Exerceu também atividades de ensino e entre os candidatos do Instituto de Chicago era considerado o melhor professor de curso teórico, escritor dos artigos mais interessantes e líder intelectual da psicanálise moderna.
 

Por tudo isso, era chamado de “Mr. Psychoanalysis”.

Foi de meados da década de 1960 até sua morte, em 1981, que Kohut dedicou-se a escrever sua importante obra. Seu livro principal “A Análise do Self” foi escrito em 1971. Kohut fundamentou, inicialmente, suas novas idéias tendo como base a teoria freudiana, propondo uma segunda libido, a libido narcísica, e uma linha complementar para o narcismo.

 

Estabeleceu também o que denominou de “transferências selfobjetais especulres e idealizadoras”. Em “A Restauração do Self” (1977) Kohut mudou o seu foco do narcisismo para uma discussão à respeito do self, seu desenvolvimento e vicissitudes e o arco de tensão do que ele então denominou “self bipolar”.
 

Em 1978 surgiram os primeiros dois volumes, editados por Paul Ornstein, de “Search for the Self”.

Apesar de seus graves problemas de saúde, um linfoma detectado em 1971, Kohut continuou o seu trabalho até morrer em 08 de outubro de 1981. Seu último livro “Como Cura a Psicanálise” só foi editado em 1984. Um outro volume de alguns artigos novos e outros republicados surgiu em 1985, editado por Charles B. Strozier, “Self Psychology and the Humanities” (“Psicologia do Self e a Cultura Humana”); em 1990 e 1991 os volumes 3 e 4 de “Search for the Self” foram editados e também uma seleção da correspondência de Kohut realizada por Geoffrey Cocks, “The Cure of Life” (1994).

Fonte: www.abepps.org.br

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